sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O Fantástico Jaspion Matéria Especial

O Fantástico Jaspion
Kyoju Tokusou Juspion (Investigador de Monstros Juspion)
Produção: Toei Company, 1985
Episódios: 46 p/ tv
Criação: Saburo Hatte
Exibição no Japão: Tv Asahi (15/03/1985-24/03/1986)
Exibição no Brasil: Manchete – Record – CNT/Gazeta
Distribuição: Everest Vídeo


No começo da década de 1980, houve uma revolução na forma de produção dos seriados tokusatsu. Tudo motivado pelo Policial do Espaço Gaban (Uchuu Keiji Gaban, exibido pela Globo no começo da década de 90) que com seu visual e conceitos inovadores, logo caiu no gosto do público e deu origem ao gênero que conhecemos como Metal Heroes. Como em time que está ganhando não se mexe, a Toei Company produziu duas sequências diretas de Gaban nos anos posteriores – Sharivan e Shaider. Todavia, o ar de “novidade” foi se acabando e depois do pouco sucesso da série Shaider, a ‘ficha caiu’ pra equipe de produção. Era o momento de reciclarem ideias e se arriscarem com uma série que não fugisse do conceito do pioneiro Gaban, mas adicionasse ingredientes inéditos. Trocando em miúdos: lançar mais do mesmo dando uma maquiada. Afinal, a imaginação da equipe de produção da Toei nunca pareceu ser muito fértil… O quê? Vai dizer que super sentai não é tudo igual – guardando as devidas proporções-?!
O nome da produção que foi lançada com a proposta de voltar a chamar atenção do público foi Kyouju Tokusou Juspion. Ou como ficou mais famoso no Brasil… O Fantástico Jaspion! A série uniu tudo o que tinha dado certo nos Metal Heroes anteriores agregado a um conceito mais dinâmico. Saíam as longas explicações do narrador ensinando como o herói se transformava (no início parecia legal, mas depois… Haja saco!) e o herói não tinha mais um ritual de transformação que parecia durar horas (mesmo que o maldito narrador tentasse nos convencer que tudo aquilo era feito em frações de segundos!). “A outra dimensão” também sumiu, ou melhor, em parte. Já não usavam mais esse conceito, e o personagem circulava livremente tanto pela pedreira como pela “sala escura esfumaçada da Toei” sem a desculpa de se tratar de um lugar onde os monstros ficavam mais fortes (até parece que isso adiantava…).

Dizem que o ator que interpretou o personagem principal da série, Hikaru Kurosaki (dono do cabelo black power mais tosco da história dos tokus) achava as poses ridículas e por isso o personagem já aparecia transformado. Por falar nisso, “lendas” é o que não faltam a respeito da série. Além da que fala que o herói é brasileiro (@_@) ainda comentam que na realidade, a primeira armadura produzida para o seriado foi a do vilão MacGaren. Só que os produtores não gostaram do resultado e, pra não desperdiçar o que havia sido feito, resolveram transformar o que seria o herói no vilão da série, mudando a cor para negro. Claro que isso não passa de especulação.
Mas o fato é que Jaspion, de alguma forma, conseguiu superar seus antecessores com uma abordagem mais dinâmica (as “organizações malígnas” deram lugar à Satan Goss e o próprio MacGaren, sem dúvida, vilões mais que memoráveis na cabeça dos fãs). Outro diferencial foi que o robô ganhou mais importância na série, diferente dos anteriores (se é que podemos chamar aquela caixa de leite biônica do Shaider de robô @_@) que se resumiam a destruir navezinhas de papelão. Apesar das diferenças básicas, o seriado ainda manteve alguns elementos “clássicos” como a “navezona” que virava robô, a assistente inútil, o revólver laser, a espadinha também laser, a moto, o jatinho, o tanque de guerra… Lembram que ele só os usava por frações de segundos? Tudo em nome das bugigangas que estavam nas lojas no dia seguinte à exibição dos episódios.
Se na trilogia Gaban, Sharivan e Shaider, o público se deparava com monstros de borracha sem nenhum carisma, o mesmo erro não foi cometido em Jaspion. Desde a concepção, os monstros e vilões foram bem trabalhados, tornando clássicos “monstros do dia” como Nanamaguederaz e o Pirossauro e seu dono – aquele samurai estranho, o Zamurai. Tudo bem que os personagens secundários (como os soldados) eram bem tosquinhos (um parecia ter algodão doce colado na cara) e aquelas assistentes do MacGaren tinham cara de batedoras de carteira nos bastidores da produção (o que era aquele abajur na cabeça da Purima?) só que a dupla Mac Garen e Satã Goss compensava tais “moles”.
Falando no vilão favorito de 10 entre 10 tokufãs, o personagem que atende pelo nome de Mad Galant no original (Galã Mal? :P) foi vivido pelo veterano Junichi Haruta, um dos mais famosos dublês de live-action, que tem em seu currículo séries como Dynaman, o primeiro Kamen Rider e Goggle 5 (onde ele é o próprio Goggle Black). Entre outros do elenco, destaca-se Kyomi Tsukada como a “ajudante-inútil” que no ano anterior viveu a fotógrafa – também inútil – Gunko em Machine Man (a menina tem jeito pra coisa ^^”), e no decorrer da série o famoso ator Hiroshi Watari (que já tinha estrelado Sharivan e virou arroz de festa em eventos brasileiros) aparece fazendo o papel de Boomerman (o rapaz dos bumerangues de isopor gigante x_x).
A historinha
O sábio Edin prevê o aparecimento do satanás da Via-Láctea, o Satan Goss, que tem como objetivo destruir tudo que existir e criar um império dominado por monstros. Para tentar impedir tais planos (são muito originais por sinal, né?), ele convoca seu discípulo Jaspion para que este dê um fim a essa ameaça ao universo. Para tanto, o jovem de cabelo rebelde ganha a armadura Metaltex e a nave-robô Daileon (que veio de brinde com a androide Anri, criada por Edin – onde ele arrumou tecnologia naquele planeta inóspito? – e que só servia pra ficar em perigo ou dentro da nave fazendo “relatórios da situação”). Nos primeiros episódios Jaspion conheceçe Miya, uma ancestral bem distante (e tão chata quanto) dos Teletubbies (a Toei deveria processar a BBC por plágio).
Depois de umas aventuras em planetas extraterrestres, Jaspion chega na Terra e descobrimos que nosso planeta é infestado por monstros gigantes emborrachados adormecidos. Ideal para Satã Goss, que tem o poder de transformar tais monstros em seres incontroláveis (lembram disso?!). Por aqui, Jaspion ganha a amizade de Boomerman, um agente secreto e do Professor Nambara que apresenta à série o mistério do Pássaro Dourado. O Pássaro Dourado é um bicho mal feito que fica pendurado por um fio (às vezes visível) envolto por uma luz dourada que é a única coisa que Satã Goss teme (um passarinho? Uiiiii). Tal pássaro só surge com a reunião de 7 crianças especiais que viram uma luz e a partir da metade da série, a missão de Jaspion passa a ser encontrá-las.
No desenrolar dos episódios nota-se que MacGaren, filho de Satan Goss, cria um ódio mortal pelo herói, o que faz o espectador sonhar com um mano-a-mano entre eles. Eis que no episódio 29, MacGaren e Jaspion caem no pau e o herói arranca o braço do vilão antes de aplicar seu clássico Cosmic Laser. Delírio puro! Mac Garen ressuscita graças a macumbeira intergaláctica Kilza (Berekekatakabambá!) e passa a ser mais frio e calculista que antes. Depois que Jaspion mata Kilza, surge outra bruxa: Kilmaza (que recicla a fantasia da irmã).
Satã Goss passa por um processo de metamorfose e vira um bicho muito feio, mas hiper poderoso. Começamos então a sentir o final da série se aproximar. Durante a noite, o Poderoso Satã Goss começa a construir seu Império dos Monstros transformando a cidade em selva para os monstros gigantes (já mortos por Jaspion XD) ficarem fazendo o Japão de playground. Resta apenas duas crianças a serem encontradas. Em meio ao caos, Jaspion encontra a 6ª (numa cena antológica em que Anri surge voando com seu sapatinho salto-foguetinho e um metracão de cartolina) e no mesmo episódio acontece o quebra-pau definitivo com MacGaren. Antes de morrer, MacGaren ainda assume a antiga forma de Satã Goss como o pai, o que deixa todos bem chocados (como Satã Goss fez nheco nheco? E o pior: COM QUEM?!).
A fúria de Satã Goss explode e ele ataca Jaspion sem dó nem piedade com raias de piscina (deveriam ser tentáculos, mas nota-se que são de isopor purinho). No último episódio, Edin bate as botas (mais um momento antológico) e finalmente surge a última criança: um bebê (que aparecia em flashbacks nos pesadelos da bruxa Kilza na forma da penumbra de um boneco de plástico sacudindo x_x). O choro da criança faz o Poderoso Satã Goss enfraquecer e com a espada dourada (que tenho quase certeza de já ter visto nas mãos do Sharivan, mas abafa XD) Daileon liquida Satã Goss de uma vez (e faz ainda um milagre: a cidade se reconstrói magicamente!). Jaspion adota o bebê e o chama de Tarzan. Ele regressa ao planeta de Edin para cuidar do guri e… Acabou! Tentaram fazer um marketing cretino no Brasil falando que a série Spielvan (que sucedeu Jaspion no Japão) era Jaspion 2, fazendo com que pensássemos que se tratava das aventuras do Tarzan. Deveriam ter processado a Everest por tamanha safadeza na época…
Jaspion no Brasil
Falar da chegada de Jaspion ao Brasil é falar da história do tokusatsu em sua era de ouro na tv brasileira. A série, que estreou no fim dos anos 80 na Manchete junto de Changeman, transformou-se em uma verdadeira febre, sendo o trampolim para uma invasão dos heróis nipônicos que reinaram absolutos na tv até metade dos anos 90. Mas esse sucesso não foi alcançado tão facilmente.
Em meados de 1985, o Sr. Toshihiro Egashira era o dono de uma locadora de vídeo situada no Bairro da Liberdade (tradicional bairro japonês em São Paulo). Mas tal locadora tinha algo peculiar: alugava programas gravados da tv japonesa para os descendentes que ali habitavam. Só que ele reparou algo bastante interessante: entre todos os programas disponíveis, os que mais chamavam a atenção – principalmente das crianças – eram os tokusatsus, séries de efeitos especiais estreladas por heróis. Mas não eram só os japinhas que curtiam, pois mesmo estando em japonês puro, a criançada brazuca também despertou interesse pelos programas.
Foi aí que Toshi teve a ideia de adquirir os direitos de algumas dessas produções e lançá-las nacionalmente no mercado de vídeo. Para tanto, ele se aventurou a ir ao Japão, de onde trouxe na bagagem as duas séries mais recentes até então: Changeman e Jaspion, fundando assim a Everest Vídeo. Mas o que parecia um bom negócio acabou causando grande preocupação ao empresário: as fitas não estavam tendo o retorno esperado da mesma forma que alguns desenhos japoneses que ele trouxe na bagagem. Foi aí que o Sr. Toshi teve a ideia de licenciá-los para exibição na tevê.
Só que o caminho a ser percorrido era mais difícil do que se imaginava. Ambas as séries foram oferecidas a praticamente todas as emissoras e o que mais se ouvia era “não trabalhamos com isso” e “heróis japoneses já eram desde National Kid”. Foi então que, graças à uma mãozinha do falecido Beto Carrero (sim, aquele tiozinho do chapeuzim que tem o 5º maior parque do mundo XD), a Everest fechou um acordo para exibir ambas as séries na Manchete.
Em menos de 1 mês de exibição dentro do Clube da Criança, as aventuras do herói metálico e do quinteto saltitante conseguiram a proeza de alcançar o segundo lugar na audiência, tornando-se os programas mais vistos da emissora. Foi o início de uma era de ouro para os tokus. Mas a alegria não duraria muito.
Com o crescente sucesso de Jaspion, cresceu também o investimento para a vinda de outras séries do gênero que rechearam as tardes (e em uma época, praticamente o dia todo @_@) da saudosa Manchete numa das melhores fases da emissora. Mas, tal sucesso também teve seu ponto negativo. Todos os canais, de olho na fatia de audiência alcançada pelos enlatados da Manchete, resolveram investir no filão, trazendo tudo quanto é tipo de similar a Jaspion e Changeman.
Pra se ter uma ideia do alvoroço, chegou uma época em que cerca de 16 seriados estavam no ar na tv, isso enquanto o Japão exibia de 2 a 3 por ano! Os japas sabiam que o excesso poderia saturar o mercado, mas não tinham como controlar a fome dos distribuidores que nem sempre adquiriam os seriados por eles (a Oro Filmes por exemplo comprou Goggle5, Machine Man e Sharivan de uma distribuidora Italiana). Até a Globo, quem diria, foi ao Japão comprar seus tokus, trazendo ela própria para o Brasil Gaban, Bicrossers e Shaider. O resultado dessa zona: o ar de novidade que aqueles heróis representavam foi se perdendo, fazendo com que o gênero fosse ficando saturado, e pouco a pouco os tokusatsus foram se despedindo da tv, pois havia chegado a um ponto que ninguém mais aguentava o exército de “Jaspions e Changemans” em tudo quanto é canal.
De todas as coisas mais fantásticas que essa época trouxe para o público, sem dúvidas a maior de todas foi o circo-show. Quando comprou as séries com a Toei Company, o senhor “Toshi” trouxe na bagagem as roupas dos heróis para ajudar na veiculação dessas séries em solo tupiniquim (numa época em que a Toei era “boazinha” e tinha um olho enorme no potencial pouco explorado do mercado brasileiro). Com roteiros escritos por Mauro Eduardo (o dublador do Jiraya e do Inu Yasha) e contando com o dublê Adriel de Almeida (hoje um ícone para milhares de tokufãs, que o chamam de “Jaspion brasileiro” pelo fato de ter vestido a armadura do herói) com o principal da equipe, o Circo-Show de Jaspion & Chageman rodou todo o país em apresentações que entupiam as lonas e deixaram as crianças ‘fantasticadas’ com tudo que viam. Prejuízo só para os pais: o preço cobrado pra tirar fotos com os heróis era os olhos da cara!
Mas o que importa é que Jaspion virou um fenômeno, aparecendo em tudo quanto é mídia: quadrinhos (via Bloch, EBAL e Abril), chicletes, discos, camisetas e tudo mais em que era possível estampar a marca do personagem. Aproveitando todo esse sucesso, a Manchete e a Everest, em um grotesco plano de marketing, lançou Spielvan com o nome de Jaspion II, com direito a um disquinho com os dois “juntos” na capa. Nem precisa comentar que a estratégia não deu certo, pois Spielvan lembrava bem mais os Metal Heroes Gaban, Shaider e Sharivan do que Jaspion.
Mais tarde, em meados de 1995, as aventuras do herói blindado passaram a serem exibidas nas tardes da Record junto a Changeman, Flashman, Machine Man, Sharivan e Goggle 5. Lógico que não fez o mesmo sucesso que antes, pois a Manchete já tinha reprisado trocentas vezes cada episódio, tanto que as fitas estavam até quase transparentes (estou exagerando, mas que eles reprisaram umas 100 vezes cada episódio não dá pra negar :P). A série se despediu do Brasil no final de 1997, quando foi exibida discretamente nas manhãs da CNT/Gazeta.
Hoje em dia, o herói é lembrado com carinho pelo exército de fãs que conquistou. Tal como National Kid, Ultraman e Speed Racer marcaram uma geração, Jaspion (com mais intensidade que Changeman) se tornou um ícone brasileiro da cultura trash oitentista. É impossível não falar de anos 80 sem lembrar do herói. E como na virada do milênio essa década bizarra voltou com toda força (seja por meio de livros, relançamentos em DVDs, programas ou festas) todo mundo ficava se perguntando quando Jaspion (e Changeman) seriam lançados oficialmente em DVD por aqui. Fato que se consumou em 2009, quando a Focus Filmes lançou a série completa em 2 boxes e em um latão que incluía um tosquíssimo e desproporcional boneco de látex (que a própria empresa não teria aprovado, mas não podiam jogar fora… aliás, podiam =P) e alguns cards.
Os DVDs foram um enorme sucesso de vendas, o que encorajou a empresa a lançar Changeman, Jiraiya e o idoso National Kid (que superou a vendagem do herói oitentista). Felizmente, desses 4 lançamentos, Jaspion foi o que recebeu melhor tratamento, com imagem remasterizada, extras e gente entendida do assunto envolvida no acabamento final. Uma ótima maneira de eternizar um dos maiores ícones nipônicos do Brasil.

Checklist Episódios
01 – O planeta de Edin
02 – O triste fim de Sakura
03 – O sonho do menino galáctico
04 – A fúria do pântano
05 – O enigma da flauta
06 – Gordon em busca da mãe
07 – O demônio da montanha
08 – O casal fugitivo
09 – A história de uma árvore
10 – O ataque do Pyrossauro
11 – Perigo em Tsukuba
12 – A profecia
13 – A investida dos aliados espaciais
14 – Perigo na lagoa dos noivos
15 – Sonho ou ilusão? A imagem dourada
16 – Qual o destino da humanidade?
17 – O mistério do Pássaro Dourado
18 – O inimigo imortal
19 – Alerta no oceano
20 – A última chance
21 – O valente garoto jogador
22 – O feitiço de Titânia
23 – O monstro do século
24 – Ambição perigosa
25 – Tókio em perigo
26 – Contra ataque de Daileon
27 – Juventude ameaçadora
28 – Dados mortais do monstro eletrônico
29 – A morte de Macgaren
30 – O pânico do balão
31 – Golpe na TV
32 – A conspiração do robô
33 – Batalha da magia negra
34 – A fortaleza indestrutível
35 – A descoberta do pergaminho
36 – O milagre das novas vidas
37 – Cardápio infernal
38 – Trama miraculosa
39 – O poderoso beijo de Myio
40 – O enigma do meteoro
41 – O atirador da justiça
42 – A história de Pep e Hiroshi
43 – O misterioso mundo de Satã Goss
44 – Retorno satânico
45 – Sou o filho de Satã Goss!
46 – A união dos povos da Via Láctea

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